quinta-feira, 17 de maio de 2007

MEMORIES I



S/título. Acrílico sobre papel de parede, 1988 @manus



Lamento interromper esta corrente poética,
mas pedem-me, agora, coisas mais palpáveis.
Do tipo: memórias para os vindouros.
Nunca percebi o que isso é!
Cheira-me sempre a vinho do douro,
ou mais lá de baixo, com caves em Vila Nova
de Gaia, que não é, propriamente, o Porto.
Gosto do Porto. Sempre apoiei as iniciativas
do norte, do sul e do centro.
Gosto do sabor e do corpo de coisas palpáveis.
Não resisti ao desafio.

Aqui fica a primeira impressão.



(SEM TÍTALO)





Em pezinhos de lã
chegou-se à minha beira
e perguntou-me
o que estás aqui a fazer
olhei
eu não estava de facto
a fazer nada
disse-lhe
estou a chorar

mas não vejo lágrimas
nenhumas

pois não
se visses era milagre
e os ministros não fazem milagres

pois não

pois estou aqui
a chorar
para que os ministros
possam fazer milagres

e o menino acrescentou
era disso que suspeitava
mas não chores

foi nesse momento
que me apercebi
que começara a chover

as flores da primavera
sorriram para o menino
que rebolou na relva
para apanhar uma gota
que fugia para são bento
sabes eles sabem
que que que que o sonho
não comanda a vida
finalizou o menino
e eu voltei para casa



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