sábado, 28 de junho de 2008

AO TEU NOME

**********



*


ao teu nome

nada acrescento


apenas

o sentimento

que me permite

tratar-te

por amada

terça-feira, 24 de junho de 2008

TEJO

____________












Da minha casa, o Tejo parece um tapete verde.

Às vezes, uma fábrica de navios.

São tantos, a partir e a chegar,

que os meus olhos ficam confusos e admirados

de como é possível haver tantos barcos no mar.

A minha admiração é muito maior,

quando me dou conta que o Tejo é um rio.

Sabiam que o Tejo é um rio?

Sim, é um rio, embora por vezes não o pareça,

quando da foz se aproxima,

como é normal num rio.

Gosto muito de rios. Sempre gostei.

Mas acho estranho um rio com tantos navios,

vedetas, petroleiros, corvetas, porta-aviões

e outras coisas assim.

É por essas, e por outras,

que acho o rio da minha aldeia

mais bonito que o Tejo.

E, juro que nunca entendi,

por que raio de razões

o Pessoa não gostava do Tejo.

Afinal, ele nem sequer tinha aldeia!





joaquim alves






quinta-feira, 15 de maio de 2008

40 POEMAS DO RECANTO DAS LETRAS





"ORIGENS",
Técnica mista e acrílico sobre tela, 81x100 cm
Joaquim Alves, Lisboa,1988






1

RELÍQUIA




por fim

ele disse

teus olhos

de cotovia

é que

me vestem

de alegria




2

MAGIA




de todas as vezes

sempre que a voz

sintonizou a noite

chamaram-lhe

magia

é tudo mentira

sempre foi

e nunca mais será

noite

e magia

roubaram-nos

tudo

tudo

tudo




3

SEGREDO




amanhã

no silêncio

da noite

uma nova

liberdade

vai chegar

é urgente

é preciso

é necessário

para sermos

gente

pessoas

não amanhã

de preferência

hoje




4

POESIA É ARTE




perguntaram-me

por que

não pões

poemas

nas telas

respondi

a poesia

já é

arte




5

ARTE




Arte

não é

o risco

é arriscar

a alma

o coração

o corpo

a mão

arte é viver

profundamente

para além

da normalidade

vigente

arte é ser

não se sabe

muito bem

o quê




6

LOUCURA SEMPRE




ou

se

entra

ou

nunca

se

chega

não

é

não

é

meu

amor é




7

LOUCURA 2




voltei

à neve

ao gelo

ao copo

ao corpo

e

foi

foi

uma

uma

húmida

única

loucura




8

LOUCURA





se

não

fosse

assim

a

vida

tinha-se

perdido




9

IDEAL




o ideal

não existe

mas

quando

existe

um ideal

é preciso

mantê-lo

dar-lhe

água



10

ESPANTO




voltei

ao local

do

costume

e

para espanto meu estavas lá




11

LIMIAR




tudo

começou

num limiar

de esperança

pequenino

trémulo

e cheio

de dúvidas

que deu

frutos




12

INJUSTIÇA




já que tudo o que peço

de tão pequeno

não mereço

vou fazer justiça

com as minhas

fracas mãos

amanhã vou ao mercado

e compro uma espada

à imagem

da que vi

usada

velha

gasta

ferrugenta

e tudo

amanhã

vou matar

a morte




13

PEDIDO




como à noite

não posso falar com o sol

fiz um pedido urgente à lua

tentar pôr ordem na morte

porque é indecente roubar

em dez dias apenas

duas amigas e um amigo

da minha vida

fico à espera de resposta

da senhora dona lua




14

VISÃO




alinhou

os patins

respirou fundo

e lançou-se

quero

experimentar

a beleza

humana

e o anjo

desapareceu




15

LUA




foi

ela

que

ditou

eu

escrevi

vós

não

percebeis

nada

de

mim

foi

ela

que

ditou




16

LOBOS




vivem

em

comunidade

e

assim

se

alimentam

de

acordo

com

a

hierarquia




17

ESTRELA



o gato pardo

que anda

pela minha rua

ia a passar

e passou

vi

uma

estrela

e

disse

esta

é

para ti





18

O INFINITO




o infinito não existe

o infinito é um oito deitado

o infinito é o contrário

do que somos

o infinito é uma estátua

antes do terramoto

o infinito sou eu

teses e mais teses

todas à procura

do infinito




19

BEM RARÍSSIMO




o silêncio

como

a amizade

é

um bem

raríssimo

respondeu

o poeta

e

eu

agradeci

com

o olhar




20

JAZZ TIME




um dia voltaremos

a encontrar-nos

num fado da amália

num samba da elis

num poema de gedeão

num solo de santana

num filme de trufaut

ou talvez em montreux

essa cidadezinha suíça

que é uma referência

de encontros súbitos

isso em montreux

para apresentar-te

os meus amigos

que jazz time

gostam de improvisar

fica combinado

no próximo ano

em montreux

nos encontramos



21


AO POETA DO AMOR E DA LUTA,

ANTÓNIO GOUVEIA

(Na Blogosfera: António Melenas)




já não sou eu

que aqui estou

faltas cá tu

falta-me

um bocadinho

de mim

já não sou eu

que cá estou

continuarei

sim continuarei

a escrever-te

cada vez

mais baixinho

e em tom lento

que a vida

se é caminho

só mesmo

exaltada fica

quando lutamos

com o amor

que revelaste

já não sou eu

que estou

por aqui

faltas cá tu

por inteiro




(Para ouvir textos de António Melenas, na voz de Luís Gaspar,

aceda a:

Standard Podcast [16:20m]: Hide Player | Download

em

http://www.estudioraposa.com/index.php/18/03/2008/

lugar-086-antonio-melenas/

e em:

http://www.estudioraposa.com/index.php/11/01/2008/15



22


SILÊNCIO



o silêncio

dos poetas

como tu

é sempre

branco

alvura

onde

novas

palavras

crescem

des

me

su

ra

da

men

te

até

à

terna

idade

(Ainda, para o António Gouveia.)





23

DE QUE RIO VIESTE




de que rio vieste

tu

para te encontrar

nesta margem

o sonho largo

os olhos inquietos

na boca

o espanto

de

que

nascente

brotaste




24

SENTIDOS




perdi

os óculos

mas

continuei

a sentir

as tuas

duas

mãos

até

de olhos

fechados




25

POESIA





agora

os dias

são

maiores

posso dar-te

mais luz

estender-te

os braços

convidar-te

para jantares

poentes

bonitos

e depois

ficar

a ver-te

a saboreares

docemente

Poesia




26

OS PÁSSAROS



Do

ninho

à

represa

vão

apanham

uma

minhoca

Ao

ninho

regressam



27

MILAGRE





saí

de

casa

entrei

no

quintal

a couve

estava

triste

fiz-lhe

uma

festinha

sorriu




28

GRÃO de AREIA



olha

não

cais

para

os

sonhos

mas

a

sul

vou

colher

um

grão

de

areia

para

ti




29

LITERATURA





abri

o

livro

fechei-o

da

gaveta

tirei

a

palavra

amor





30

PALAVRAS




abri

o

livro

fechei-o

da

gaveta

tirei

a

palavra

amor



31

UMA VEZ





morremos pela boca

morremos pelo coração

morremos pela cabeça

morremos pelo pulmão

morremos aos poucos

morremos de emoção

morremos de repente

morremos a destempo

morremos contra a mão

morremos contra a alma

morremos uma vez só




32

O TEMPO




O relógio

não olha

para mim

eu

pago-lhe

com

a mesma

moeda




33

LÁGRIMAS





des

cul

pa

a

sub

li

ma

ção

eu

es

ta

va

mes

mo

a

cho

rar



34

IDEM





Por vezes

são

as lágrimas

que

nos salvam

coisas simples

que no dizer

do poeta

não passam

de água

e

cloreto

de sódio




35

QUASE





Quase perfeita

a razão do gesto

que não aconteceu.

Quase perfeita

a memória do gosto

que se perdeu.

Quase perfeita

a mão que escreveu

e não rasgou

palavras amargas.

E a doçura ali tão perto:

ali mesmo ao lado.

Metade da alma

partida,

perdida...

Quase perfeita,

a intenção!

***************

in, pucaradojaquim.blogspot.com




36

LE TEMPS QUI PASSE






Tudo passa

disse ele

pois

disse

ela

e não

alcançaram

o último

degrau

azul

que a nuvem

que

passava

levou

consigo

inutilmente




37

A ESCRIVANINHA DO POETA






Sentou-se

levantou-se

deu

três voltas

ao

quarto

crescente

e

voltou

escreveu

desisto

de

entender

este

mundo

tão

pouco

global

. ponto

ponto

final .

. final

ponto

pronto

____


Hoje,

não há estrelas

para ninguém!

Morreu mais um poeta!

Pronto.



38

MUSICAL





cons

truí

mos

a

nossa

casa

sobre

ruí

nas

e

ela

não

veio

abai

xo


@joaquim alves

in "Terra Branca"




39

LADO ESCURO





Regressei

à varanda

estive à

tua espera

e não

te vi

será que

foste

pelo lado

escuro

esta

noite


******************

@joaquim alves in "Poemas à Janela"




40

PERSONALIDADE





Cabeça erguida

voz segura

alma calma

olhar vago

sentir profundo

fingimento

nenhum

levantou-se

disse boa-noite

e saiu

para não mais

voltar

*******************

@joaquim alves in "Poemas à Janela"

.

.

.

.

.

.